Solidão
A solidão é corrosiva, começa a destruir o coração e depois o resto do corpo. Não existe antídoto. Havia, algum tempo atrás, mas foi extinto com o velho mundo. Chamava-se Amor.
O Amor então curava qualquer Solidão. Hoje não existe mais Amor verdadeiro, apenas amores fugazes e fúteis. E a Solidão então toma conta dos sensíveis, dos emotivos, dos de coração puro, destrói-os de todo o jeito, física e mentalmente.
Hoje sofro. Ainda não estou morta, pois vomitei o veneno que a Solidão me obrigou a beber. Não tenho muito tempo.
Estou enclausurada e isso faz aumentar a minha solidão, o que aumenta ainda mais a minha dor.
Já não há dias, horas, nem mesmo minutos, apenas uma enorme eternidade na qual estou me afogando. O meu tempo acaba e me torna nada para sempre.
Lembro que algum tempo atrás eu sonhava com o Amor. Ele era alegre, bonito e me fazia sorrir. Acordava feliz naquele tempo. Mas uma noite ele não veio. No lugar dele um homem sedutor e belo, ele me fez acreditar ser o Amor. Enganou-me. Feriu-me. E eu derramei sangue feito lágrimas e nunca mais sonhei com meu Amor.
Sei que ele existiu, mas também sei que ele nunca mais vai me encontrar. Ele foi para sempre e nunca mais de mim.
Não consigo nem ao menos ter lembranças dos sonhos felizes. No lugar deles, pesadelos intermináveis que só findam quando choro, parece que é só isso que me desperta.
Hoje não posso mais sonhar, tenho medo de fechar os olhos, com medo de que aquele pesadelo horrível retorne, ou aquele sonho falso, o que significa o mesmo.
Só há uma chance de fugir, de fechar os olhos sem que o pesadelo apareça. É fechar os olhos para o mundo e tudo de mal que vem dele. E abrir os olhos para a Eternidade.
Talvez eu esteja apenas sonhando acordada...