DOR
Uma vez eu tive o corpo queimado inteiro, sentia a dor de estar em carne viva, durante muito tempo, mesmo terem cicatrizado as feridas expostas na pele. Nunca pensei que escaldariam minha pele outra vez, e desta vez para sempre, sem cicatrizações. Vivo, portanto num subsolo escuro, gelado e sem a menor fresta de luz, tenho que sobreviver até o fim de tudo, espero pelo fim, mas é contra a minha natureza, meu instinto de sobrevivência, acabar com tudo, mesmo não suportando a dor. A dor já faz parte de mim, é minha pele, e o sentimento que apaga o outro ainda maior dentro de meu coração, e não há espaço pra raiva ou amargura, apenas resignação, uma aceitação martírica... um amor louco por ele, sempre ele, quando não suporto a dor mais e penso que morrerei, penso naqueles olhos, naquele rosto, naquele corpo e vivo numa ilusão doentia e eterna. Ninguém sabe disso, nem ele, nem ninguém que no passado eu convivi, todos acham que eu morri e eu não sei o que pensam, o que sentem, se sentem a minha falta, a ausência de uma vida que já era ausente ao mundo. Uma solidão e um silêncio consolador aqui embaixo, mas há horas de desespero, de delírio frenético, de febre incontrolável... Tem passado, mesmo durando horas, dias, mas tem passado. O meu corpo e meu coração estão no limite, eu posso sentir... tudo diminuindo, meu corpo, meus olhos, minha memória, minha sanidade e meu coração batendo cada dia mais lentamente...
Uau!
ResponderExcluirAgora lembro que eu também tenho um texto com esse título!
ResponderExcluirhttp://nitidasensacao.blogspot.com/2010/10/doro-sapatinho-branco.html