quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lembranças, infância, futebol

Lembro de como conheci o meu time do coração, uma bola de plástico do Internacional, que era para ser do meu irmão, mas que por alguma razão, tinha que ser minha... Nando nunca gostou de futebol, eu pelo contrário, sempre adorei, lembro de ter dado meu primeiro chute naquela bola de plástico, e meu pai me ensinou... Naquele dia meu pai me explicou que tinha que pegar em cheio na bola e chutar com força - tanto que ao demonstrar, a bola bateu com tanta força na parede de madeira que tremeu e deslocou um dos quadros de minha vó, caíndo e quebrando em pedaços... Meu pai era assim, tudo ele quebrava: as bolitas que eu ganhava na escola jogando com meus amigos, meu pai quebrava quando o pedia para que jogasse comigo.
Futebol era um desafio, tanto torcer, quanto jogar. Torcer, nos anos 80 e 90, para o inter era quase uma incoerência, o Inter não ganhou nada nesses anos, o Grêmio em compensação... Bom, nasci em 1983, os gremistas conhecem bem esse ano...
Jogar então..., eu era menina, menina não jogava futebol naquela época, não tinha meninas para formar um time, então, tentava me infiltrar no time dos meninos, não queriam, nunca deixava, mas insistia sempre, até deixava pelo menos eu entrar em campo, mesmo que não recebesse a bola. Aí sim, tinha que correr o dobro, roubar o dobro de bolas, dar passes mil vezes melhor e chutar tão forte ou mais que os meninos. Não foi fácil.
Mas, inacreditavelmente, outras meninas começaram a achar aquilo divertido e começaram a querer jogar também. Aos 13 anos, conseguimos montar um time de meninas.
Como todas as paixões, baseadas e fatores muito mais inconscientes, minha paixão por futebol, está em acreditar nas coisas que por hora são impossíveis. Acreditar no amor por meu pai, acreditar que posso me divertir fazendo coisas que todos dizem que não tem graça, “oras, correr atrás de um pedaço de couro”, “uma menina com esses joelhos e pernas roxas, devia arrumar um namorado”, “vai botar uma blusinha, uma saia, esses camisetões é coisa de homem”.  Não, coisa de homem é achar que futebol é coisa de homem.
Meu pai não achava, meu pai não tinha certos concepções, que todas as outras pessoas de sua geração tinham. Meu pai torcia e torce para o Internacional, o time do povão (gremista que me perdoem, isto é opinião pessoal), time que desde os anos 70 não ganhava nada. Vivíamos de passado, éramos uns românticos, sonhadores, meu pai é assim. Hoje ele chora quando vê o inter ganhar... , valeu a pena esperar para ver isso.
Valeu a pena jogar futebol, naquele tempo eu apenas me sentia bem jogando, apenas perdia a timidez dentro do campo ou da quadra. Esquecia que não tinha muitos brinquedos, que não tinha dinheiro e morava longe de tudo. Esquecia o quanto o mundo pesava já naquela época. O futebol dava leveza a vida. Acho que isso é o que move a paixão de quase todo mundo pelo futebol. A irracionalidade coletiva está justificada, a minha também... mas meu caso é bem sério, admiro o futebol como quem aprecia uma abra de arte. Para mim futebol é isto, Arte. Mas o bom e velho futebol, não o que hoje vemos, aquela em que todos jogavam com raça para seu time, bom, futebol ainda não era mercadoria... Sinto saudades daquela época...

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